Soncent

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terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Entrevista à Burguesa

Por ocasião do lançamento do seu segundo livro de poemas, Sobre o amor e outras mentiras, o programa radiofónico O Trovador enviou dois jornalistas para entrevistar a autora, para a nossa secção “Dois géneros, duas entrevistas”. A entrevista feminina foi conduzida pela Carlota Marques e a masculina pelo Rosende da Rosa. Foram ambas gravadas após o lançamento do livro.

 Entrevista feminina:

Bom dia, sou Carlota Marques e comigo tenho A Burguesa, autora do livro Do amor e outras mentiras.


Carlota Marques: A Burguesa confessou durante a apresentação nunca ter encontrado nenhuma outra razão para escrever, compor e pintar, que o amor. “O amor não correspondido tem sido sempre a minha fonte de inspiração. Tudo o que faço, faço por amar muito e não ser amada”. A Burguesa ama sempre pessoas erradas ou apenas tem tido azar?
A Burguesa: A vida inteira amei a mesma pessoa.
CM: E o que aconteceu?
A Burguesa: Ela não me amou de volta.
CM: Como assim, de volta?
A BURGUESA: She didn’t love me back.
CM: Então era uma mulher?
A Burguesa: Ela, a pessoa. Era um rapaz e hoje é um homem. Mas nunca me amou para trás.
CM: Para trás? Como assim?
A Burguesa: …
CM: Como descreveria os seus poemas a essa pessoa?
A Burguesa: São letras. Letras enfileiradas para falar de amor.
CM: Lindo. A Burguesa é uma grande poetiza. Como é que vê os outros autores do país?
A Burguesa: A competição não me interessa, a poesia política me desgosta, a poesia ambiental me desilude.
CM: Claro. É difícil ser-se poeta do amor em pleno século XXI?
A Burguesa: É difícil ser-se poeta do amor em qualquer século. Amar verdadeiramente dói. Falar sobre essa dor expõe-nos para os outros. É despirmo-nos dos nossos disfarces, expor as nossas chagas.



Entrevista masculina
Rosende da Rosa: Considera o amor uma mentira?
A Burguesa: Tudo é uma mentira. Tudo.
RR: Então para quê fazer distinções?
A Burguesa: Porque há que preencher a vida até morrermos.
RR: Pensa muito na morte?
A Burguesa: A morte é que pensa muito em mim. E em si.
RR: Como é que se descreve, enquanto autora?
A Burguesa: Não vivo dos meus livros, se é isso que quer saber.
RR: Vive do quê, então?
A Burguesa: De patrocínios.
RR: Também escreve prosa?
A Burguesa: Publiquei 3 romances. Vai-te porta afora, O soldado raso e Jumentos.
RR: O que me pode dizer sobre eles?
A Burguesa: O Vai-te porta afora é sobre uma mulher que decide expulsar tudo o que é tóxico na sua vida. Começa por abandonar o marido, o emprego, depois desfaz-se de coisas, como roupas, enfeites, estantes, etc. Fiz uma extensa pesquisa sobre deuses indianos para o escrever. O Jumentos descreve uma equipa de futebol de província durante uma temporada especial em que alcançam o segundo lugar nacional.
RR: E o Soldado Raso?
A Burguesa: Esse é a história de um pai de família que, sem outro trabalho possível, entra para a tropa, falsificando alguns documentos.
RR: Como é que descreve os seus personagens?
A Burguesa: Meus personagens são todos amorfos, antipáticos, egocêntricos. Meus personagens são falsos eus. Meus personagens são abortos meus.
RR: A Burguesa é uma verdadeira poetiza. Pensa muito em abortos?
A Burguesa: …



Praia, 13 de Outubro de 2011

3 comentários:

Anónimo disse...

A E. deve ser a única mulher CV que ganhou o meus respeito e que admiro bastante. Não é por causa deste blogue (que tem uma audiência questionável) e não me confundam com os odiosos machistas. Ela, simplesmente, ganhou o meu respeito. E processos desses são mais difíceis do que possam imaginar. E.: Refere no teu blogue (caso queiras) o Cristopher Hitchens. Faleceu, também, no dia anterior à Cize. Best

Eileen Almeida Barbosa disse...

O Anónimo deixou-me não sem palavras, mas com um excesso das mesmas, experimentando assim uma dificuldadezinha em escolher com quais responder ao comentário. Um simples Obrigada não bastaria, suponho, mas ao mesmo tempo, o seu anonimato impede-me de fazer uma vénia muito pronunciada (curiosidade e pudor oblige.
Obrigada pela dica também e espero voltar a ouvir falar de ti!

Eileen Almeida Barbosa disse...

O Anónimo deixou-me não sem palavras, mas com um excesso das mesmas, experimentando assim uma dificuldadezinha em escolher com quais responder ao comentário. Um simples Obrigada não bastaria, suponho, mas ao mesmo tempo, o seu anonimato impede-me de fazer uma vénia muito pronunciada (curiosidade e pudor oblige.
Obrigada pela dica também e espero voltar a ouvir falar de ti!