Soncent

Soncent

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Abuja

 
Fui a Abuja. Penso que fui a Abuja. Não pisei calçadas ou betumes, mas respirei um ar seco e cheiroso, cheiro a coisas desconhecidas, que não pude ver. Vi colinas engraçadas, maciços rochosos arredondados na ponta, nascidos do plano de árvores.

Vi cidade, vi subúrbios pobres, e a cada janela, imaginava a vida dentro, desejava passar aí um fim-de-semana, adivinhava as pessoas que lá moravam e o seu dia-a-dia.

Vi, sobretudo, homens armados de espingardas. Na estrada, a cada cinquenta metros. É uma sensação estranha, essa, de estarmos no meio a tanta gente armada. Lá a minha imaginação disparava, começava a imaginar-me a ter que mergulhar no fundo do carro para fugir a balas perdidas, a tentar alcançar o aeroporto sem saber em quem confiar, a tentar embarcar sem ter comigo o passaporte. Atenção aos filmes Rambo em crianças muito pequenas!

Mas a situação mais picante que vivi em Abuja foi frente a uma sopa que me ia matando com o seu teor de pimenta, o condimento preferido por aquelas bandas. Pepper soup, pepper chicken, pepper tutti! E eu que não cresci na Guiné...

Fui a Abuja.

Temos lá uma florescente comunidade cabo-verdiana, que nas palavras do juíz Benfeito Mosso, vem duplicando a cada ano: de uma pessoa, passaram para duas, e de duas, para quatro e agora... um total de seis cabo-verdianos a morar na cidade! Dizem que vivem bem, que se sentem seguros e aos fins-de-semana, vão tomar banhos de piscina ao Hotel Hilton. Eu acreditei. E fui também tomar um banho de piscina.

E mais não vi, que não saí do hotel, a não ser para o aeroporto, em cujo percurso vi os tais militares armados e entretive os tais pensamentos sobre balas, mergulhos, escapes, para enfrentar apenas uma busca às minhas coisas e a mim, sem que no entanto me mandassem descalçar ou passar por um detector de metais, donde, não me terem descoberto a lâmina muito bem afiada disfarçada na sola. Com ela, ameacei a assistente de bordo e consegui que me revelasse o segredo do seu penteado impecável.

Atenção aos livros de agentes secretos a adolescentes muito novas.

6 comentários:

Nadia disse...

I went to Africa! Ja te tornaste na Meryl Streep de Soncent?

Kuskas disse...

Eu conheço Abuja, fui lá 3 vezes em 3 alturas diferentes e adorei a Cidade. Adorei mais ainda o seu grande Centro Comercial ao Ar livre chamado Swui (o nosso Sucupira cabe lá dentro umas 6 vezes a vontade). O que me marcou foi a pimenta malagueta no Bigger-Shwarma e um vendedor do Swui que me triplicou o preço de umas sandálias, por eu ser "Color"=preta de pele clara!

Eileen Almeida Barbosa disse...

Nádia, quem diz "I went to Africa", é a Nina Simone. A Karen Blixen (autora do livro Out of Africa) diz, se a memória não me falha, "I had a house in Africa". Ai que filme lindo, lindo, lindo! E quantas vezes o vimos? Mas este Abuja ficou longe daquela África de savanas, de animais selvagens e grandes planícies. Isto foi Africa urbana!

Eileen Almeida Barbosa disse...

Kuskas, fizeste-me rir com rosto com este teu comentário! Preta de pele clara paga mais caro então? heheheh Da próxima, leva-me contigo, para seres a minha guia!

Eileen Almeida Barbosa disse...

Kuskas, fizeste-me rir com rosto com este teu comentário! Preta de pele clara paga mais caro então? heheheh Da próxima, leva-me contigo, para seres a minha guia!

Kuskas disse...

Eileen, levo-te sim. Até consigo entender o ingles de rua deles ahahah
quanto ao preta de pele clara, eu estava com uma amiga Nigeriana a servir-me de guia naquele mundo que é aquele mercado. Queria as sandálias e essa minha amiga estava a "bag" o preço que ele, quando percebo que ele me chamou de "color". Subi nos tamancos do meu English Standard disse-lhe poucas e boas e fui comprar as sandálias em outra barraca :D

Mas adorei tudo, até as 3 horas que estive presa em uma cela do aeroporto de Lagos. Mas isso é outra historia ;)