Soncent

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segunda-feira, 11 de março de 2013

A arrumação segundo Eileen Barbosa

Deixem-me começar por vos dizer que descendo de famílias que datam desde a origem dos tempos e que nenhum de nós, na minha linha directa, foi alguma vez abortado nem morto antes de se reproduzir. Isto é sem dúvida um grande feito (comum aliás, a todos nós que estamos vivos).
 Para além deste facto curioso e de poderosas consequências, de ambos os lados, herdei os famosos genes de arrumação. Os do meu pai, de um impressionante pragmatismo e metodologia. Os da minha mãe, menos pragmáticos mas muito eficientes.
 Assim, seria de esperar que eu fosse a verdadeira fada da arrumação.
 Não digo que não seja, mas os meus genes estão dormentes desde há coisa de trinta anos. Quando adolescente, havia dias em que decidia que o meu guarda-fatos estava por demais desarrumado e que era imperioso pôr ordem àquilo tudo. Voluntariosamente, abria as portas à coisa, agarrava em todos os cabides e depunha as roupas em cima da cama, para poder escolher as que ficavam e as que iam à vida.
 
Mas eis que se dava sempre um fenómeno a modos que curioso: olhando para a montanha de roupas em cima da cama, dava-me um profundo desgosto, uma sensação muito próxima do pânico e uma total incapacidade de mexer numa única peça. Assim, fugia do quarto e à noite, afastava as roupas todas para o lado à meia luz e dormia na nesga de colchão que sobrava. As roupas ficariam lá durante alguns dias, até que a minha mãe me desse três gritos, ordenando que as fosse arrumar imediatamente. Eu não conseguia e depois de mais alguns dias e algumas discussões, lá a pobre da empregada voltava a meter as roupas no maldito guarda-fatos.
 É claro que melhorei ao longo dos anos: aprendi a nunca tirar as coisas do guarda-fatos de uma só vez.
 
Mas continuo com uma metodologia para lá de distorcida:
Mudo-me para uma casa nova. Há vários cômodos que precisam de ser arrumados. Começo pela casa-de-banho. Encho umas coisas nas prateleiras e dentro do saco, encontro uma peça que pertence à cozinha. Vou levá-la à cozinha e lá, topo com várias latas em cima do balcão. Começo a arrumar as latas na dispensa e fico com as mãos sujas de pó. Vou lavá-las à casa-de-banho e vou à procura de uma toalha algures no quarto. Aproveito que estou aí e penduro algumas roupas. Depois, decido que devo pôr uns enfeites algures. E no final do dia, a casa está igualmente caótica, porque não em concentrei em nenhuma das divisões.
 
Mas estou super cansada e diverti-me imenso!

2 comentários:

Mamã Lena disse...




Eileen,

Tu e as tuas coisas! Está giro.

Eileen Almeida Barbosa disse...

Obrigada, mãe.