Soncent

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terça-feira, 16 de agosto de 2016

Crónica na desportiva II - atualização

 
Não ando a acompanhar os jogos olímpicos porque passam na TV e eu não sou muito disso. Mas ontem estive a ver um jogo de basquete e a pensar em que modalidade é que ainda estarei a tempo de me meter, para daqui a quatro anos, estar a curtir os jogos em primeira pessoa, tipo assim, participando e tudo. Creio que as minhas melhores possibilidades estão no Scrabble. Sem vergonha nenhuma.
 Nunca fui muito de desporto. Mas tentei muito!
A minha primeira paixão foi o karaté e andei uns meses numa escola. Mas o karaté era demasiado lento para quem queria ser ninja como eu. Eu queria era dar mortais e muita pancada. Afinal de contas, sou do tempo de karaté kid e saía do cinema possessa, achando que o meu destino já estava traçado.

O meu pai ofereceu-nos uns patins vermelhos e andava horas seguidas à frente de casa, num corredor de cimento que na altura era enorme e hoje atravesso em 5 passadas. Quando finalmente descalçava os patins, ficava ainda com a sensação de ter os pés a ir e a vir, sobre rodas. Era bom.
Sempre andei de bicicleta. Andava muito sozinha ou em grupos de rapazes e sentíamo-nos verdadeiros exploradores da cidade, muito intrépidos. Participei numa corrida de BTT em Faro, passámos pela Ria Formosa e fomos ter à Quinta do Lago. Caí numa descida vertiginosa e esfolei o selim. Quedas de bicicleta? Sim, tive as minhas. A mais aparatosa foi a última. Fazia sol. A música no meu MP3 era muito boa, e eu vinha montada na bicicleta, mas convencida de que estava numa mota. Fiz a curva quase deitada, armada em boa. Espalhei-me na terra por debaixo dos pneus. Bati com a cabeça, feri-me na testa, queixo, barriga, braço, quase que quebrava um pulso e quase que desmaiava. Menos mal. À noite, gemia como uma porca a parir, com as dores na mão que tocara o chão primeiro.
 Passei anos a detestar o andebol. Só entendi o quanto era bom quando marquei o meu primeiro golo. Depois fui expulsa de campo, por ter mostrado o dedo a uma colega que me tinha dito que eu nunca conseguiria.
 Treinei vólei durante três anos. Treinei com o Djô Borja, o Popey, o Quincas, o Jimmy. Pertencia a uma equipa ativa, que organizava passeios a praias recônditas. Lembro-me da Nilza a segurar-me a mão na descida para a Fateja e dizer-me, pacientemente: "Podes pôr o pé. Põe que eu te seguro. Confia em mim. Põe o pé!" E eu, quase em pânico, pensando no bom que se estava em casa, e se por acaso não haveria um helicóptero na ilha para ir salvar a damsel in distress.
 Desisti do vólei quando me dei conta de que toda a gente aprendia a fazer a chamada para o remate e eu ficava no chão.
Fiz uma aula de capoeira, achei o máximo, mas nunca voltei. Acho que dá cabo dos pés e joelhos.
Fiz mergulho. Encantei-me com o basquete e pedi uma bola. Joguei ténis com os pés. Ia jogar ténis a sério sempre que havia um Roland Garros na televisão. O Tchalé Figueira uma vez não nos deixou jogar, a mim e ao Gujó, depois de termos esperado pacientemente que um outro treino terminasse… E até hoje não lhe perdoámos. Pois, é, Tchalé, nunca reparaste nos meus maus olhares?
 Fiz escalada na Universidade. Dei-me bem, e o instrutor era uma brasa. Para melhor aprender, ficava a olhar para os movimentos dele enquanto subia a parede de uns três andares. Ou era para ver a polpa dele muito bem treinada? Cheguei ao cimo dessa parede uma vez e depois eles deixaram de dar aulas.
Há dias fui fazer paddling. Sei lá, acho que o mar não estava para brincadeiras.
Estive a entrar e a sair de ginásios a vida inteira mas não me lembro de estar tão encantada com os resultados como agora que estou no E-Fit. Aquilo sai-nos do corpo. Do sangue.
Só no pingue-pongue é que alguma vez dei as cartas no desporto. Só nessa mesa consigo saborear vitórias, digerir derrotas justas, fazer muita garganta e cumprimentar o adversário dizendo-lhe “Jogaste muito bem! Estou satisfeita por ter perdido contigo. Mas da próxima…”

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