Soncent

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quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Uma coisa bonita


Na semana passada aconteceu uma coisa muito bonita: fui mordida por uma cadela ao pé da minha casa e enfureci-me completamente porque foi sem provocação. Como qualquer outro cabo-verdiano, a minha reação, enquanto o sangue começava a deslizar-me perna abaixo não foi ir a casa lavar a ferida, fazer um curativo e ir tomar uma vacina contra o tétano. Não. A minha primeira reação foi apanhar uma pedra para atingir a desgraçada atrevida, a inimiga maldosa que se atrevera a morder-me à traição.
 Tenho vergonha de confessar que consegui o meu intento: atingi de fato a cadela nas costelas com uma pedra de calçada e só depois subi para casa maquinando como é que me iria vingar ainda mais não só da minha agressora mas de toda a sua matilha que havia já dias andava a atacar as pessoas e há já uns anos vivem e se reproduzem na minha zona. Mas à medida que fui lavando o sangue da ferida e verificando os estragos, fui acalmando e é claro que cheguei enfim à conclusão de que o ataque não era a solução.

Pedi a uma amiga que me acrescentasse ao grupo de Viber Comunidade Responsável e perguntei como é que se deve agir nessas situações. 
E aqui é que está a coisa bonita: duas horas depois de ter sido mordida, já estava a senhora Maria Suzana na minha zona a ensinar-me que a solução passa por adotarmos os cães na nossa comunidade, na nossa vizinhança, por lhes darmos comida e água porque um cão a quem alimentamos é um cão amigo, é um cão que não nos ataca, que na verdade nos protege de terceiros, nos acompanha nos nossos passeios, está lá quando nos aproximamos de casa, quando descemos de um táxi ou do nosso carro. Quando somos amigos, quando os adotamos, levamo-los para serem castrados, eles tornam-se os nossos cachorros comunitários, e a sua presença impede que venham outros cães instalarem-se na zona.

Entao, duas horas depois da cadela me ter mordido, eu estava, já devidamente vacinada, agachada ao sol, com um saquinho de ração na mão, atirando comida devagarinho para a mesma cadela e a sua matilha, que a princípio reagiu com desconfiança, mas depois se foi aproximando a ponto de me convencer de que daqui a uns dias, os vou ter a comer na minha mão. No bom sentido.

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