Soncent

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quinta-feira, 15 de março de 2007

Na diferença - Texto inédito


Sempre que te escrevi um poema e o achaste muito sombrio. Sempre que te pus uma música e a mandaste tirar, dizendo que era muito triste. Sempre que as minhas cartas te pareceram fúnebres e sempre que me tentaste ridicularizar um bocadinho só, ao mesmo tempo que franzias a testa, pensando que pensamentos são esses que essa rapariga tem.

Sempre que me achaste com uma forte tendência gótica e quiseste alegrar os meus conjuntos pretos com umas pontas de cor, leva uma carteira vermelha para cortares todo esse preto, quem foi que morreu? Nas várias vezes que abriste as janelas do meu quarto para que entrasse a luz e o ar fresco e os insuportáveis mosquitos. De todas as vezes que quiseste meter cor na minha escuridão, ritmo à minha música, alegria ao meu semblante, odiei-te e amei-te.

Por sermos tão diferentes, tão extremos, por veres tristeza onde sempre vi beleza, por te sentires pouco à vontade com o que a mim me relaxa. Por te mostrares tão vago, superficial, agarrado a imagens e aparências, quando o que te queria dar era sempre tão profundo, tão deep!

Sempre que visitei a tua casa-galeria de arte onde expões tantas cores, tanta imaginação e a gabas, comparando com o meu cafufo onde me enfio entre as cores escuras e sóbrias. Sinto que tenho que ter esperança de que consigamos sentir algo forte, mesmo tão forte, que seja completamente imune à cor com que as nossas vidas são feitas. Que passe por alto nas músicas tão discordantes. Que despreze os nossos ritmos descompassados, as diferenças nas lombadas dos nossos livros preferidos e nos títulos dos filmes. Que se inspire, e se convença que as nossas diferenças são tão complementares como o são os nossos corpos.

P.S. Vocês não pensem que isto é auto biográfico... que a minha casa é bem alegre!

2 comentários:

Anónimo disse...

Vocês perdoem-me, mas não ando a conseguir loguin em Soncent. Mas tenho muitas saudades! Beijos, Eileen

Anónimo disse...

os dois lados da mesma moeda....