Entretanto, apareceu um novo caso. Um espanhol que construíra um hotel na ilha da Boa Vista, e que parecia estar a receber visitas suspeitas e a pagar um ordenado demasiado alto a dois dos seus empregados. Foi o que primeiro lhes chamou a atenção: a quantidade e a natureza das compras que um deles passou a fazer. Pensara-se que andava a roubar ao patrão, mas ele deixou escapar que os pagamentos eram para se manter calado quanto a algumas cargas que ajudava o patrão a desembarcar noite alta, nalgumas baias da ilha. Imediatamente, foram enviados dois agentes da Policia Judiciaria e Íris ficou encarregada de os supervisionar.
Interessou-se muito pelo caso. Pediu para ir à ilha, o que lhe foi concedido, e arranjou maneira de conhecer o tal espanhol. Era um homem já de 50 anos, baixo e muito bronzeado, que só se vestia de branco. O hotel era um sítio muito agradável, em tons de areia, rodeado de palmeiras e com uma piscina enorme. Íris descobriu que se faziam lá óptimos coktails e passou a ir experimentar os diferentes sabores duas vezes por dia.
O espanhol acabou por notar a sua assiduidade, perguntou-lhe se gostara do hotel e se estava de férias. Chamava-se Maurício e era apelidado carinhosamente por “Mau”, pelas empregadas do hotel. Ela a tudo disse que sim, elogiando o serviço e o primor da sala de jantar, onde, no entanto, ainda não jantara. Ele convidara-a logo a juntar-se a uma pequena festa que haveria nessa noite, comemorando a chegada do seu novo gerente.
- Aceito com muito gosto! – Íris sorrira. Já não lhe restava muito tempo na Boa Vista mas pensava estar a fazer progressos. Não tinha ainda uma ideia do que fazer, apenas queria espiar um bocado o que se passava no hotel.
O jantar foi mais interessante do que esperara, pois o novo gerente, Bartolomeu Silva mas conhecido por Bartox, desfilara uma linha continua de anedotas, cada uma mais hilariante que a outra, e nenhuma delas de mau gosto. Era um homem dos seus quarenta anos, bem conservado, muito bronzeado, com um bigode que lhe tapava completamente o lábio superior. Íris não resistiu a convidá-lo a aparecer no apartamento dela, no dia seguinte, para lhe mostrar as fotos que fizera da ilha. Prepararia um cocktail da sua própria autoria. Ele ficou de aparecer depois do jantar. Jantava às seis, sempre.
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