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"Segunda-feira, Novembro 12, 2007
Papa aqui a ver se eu deixo
O papa Joseph Ratzinger, capo di tutti capi, fez este fim-de-semana críticas severas aos bispos portugueses que se deslocaram ao Vaticano (será que voaram low-cost?). Apesar de alguns elogios (especialmente à medieval concordata que o Estado voltou a assinar com a Igreja), o papa lá deixou escapar uns quantos dedos apontados à Igreja Católica portuguesa.
E tem razões de sobra para o fazer. No nosso país, a taxa de adesão a esta multinacional religiosa é cada vez mais baixa. Há menos baptismos, menos comunhões, menos fiéis nas igrejas e até mesmo menos padres: por cada dois que morrem apenas um é "admitido ao serviço", o que é um balanço francamente animador para pessoas como eu. Apesar dos investimentos imobiliários e da pressão social, a verdade é que a igreja está a perder terreno.
O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. Jorge Ortiga, reconheceu a dificuldade da hierarquia em lidar com o crescente abandono da fé pela população portuguesa: "O povo português continua, na sua grande maioria, a afirmar-se católico embora reconheçamos que os ventos do relativismo e indiferentismo exercem uma grande pressão, provocando atitudes e opções ambíguas e, em alguns casos, contraditórias", afirmou o bispo português, denunciando a existência de "pequenos grupos, imbuídos dum espírito laicista, que têm pretendido suscitar possíveis conflitos".
Gosto especialmente da noção de pequenos grupos que andam por aí a "armar barulho" e da tentativa de passar a mensagem de que o abandono da fé é uma questão de "relativismo e indiferentismo".
Engana-se, o senhor Ortega (nome familiar, não?).
O que leva ao abandono da fé não é o indiferentismo, pelo contrário, é a consciencialização.
Desde que Darwin publicou "A Origem das Espécies", até à tomada de posição de nomes como Carl Sagan, Albert Einstein e outros, a supremacia da razão e da lógica tem-se revelado uma caminhada difícil.
Apesar de cada vez mais existirem pessoas não-crentes e de, cada vez mais, sentirem que o podem dizer sem correr o risco de acabar na fogueira em praça pública, o certo é que não chega a ser um movimento. Isto acontece porque a maioria dos ateus não anda por aí a espalhar aos quatro-ventos que não acredita em deus, anjinhos da guarda e santos milagreiros, porque aparentemente não faz grande sentido, e é fácil de explicar porquê. A lógica é mais ou menos esta:
Quem não acredita que existem fadas no seu quintal não sai à rua a dizê-lo. Mas, por outro lado, quem acredita que no seu quintal se escondem seres mitológicos fará todos os esforços para convencer pelo menos os vizinhos.
Esta é a barreira que separa os ateus dos crentes, mas é também um dos maiores impedimentos à evolução natural do pensamento humano.
É preciso unir esforços e sair à rua dizendo claramente que é permitido falar e criar a discussão sobre religião. Ao contrário do que a Igreja diz, podemos falar sobre isso e não se trata de silenciar a coisa ao oportuno dogma da fé.
Falar sobre a existência de Deus é tão válido como falar sobre a existência do monstro de Loch Ness (apesar de que este último leva a vantagem de ter pelo menos uma foto tirada).
E falar sobre as coisas é o princípio para se esclarecer as pessoas e clarificar a sociedade, e dar o primeiro passo para a eliminação de um dos maiores cancros que corrompe o planeta.
Temos que forçar os ateus a encararem os deístas e teístas no terreno da argumentação, porque é a única forma de eliminarmos mais um mito da história da humanidade; um mito que ainda hoje subjuga milhões de pessoas, desvia milhões para usufruto próprio e está na origem de quase todos os conflitos armados humanos.
O papa tem toda a razão em estar preocupado. Como se já não bastasse termos acabado com a caça às bruxas e a Inquisição, a humanidade ameaça agora atacar a raíz do mal.
P.S.:
Resposta a um mail de um visitante deste blog
Caro F.,
obrigado antes mais pela agilidade com que respondeste a este post (8 minutos?) e pela atenção de a teres enviado como correio electrónico e não como "comentário de ódio". Permite-me que responda ao teu mail ponto-por-ponto, além de que também publicarei a resposta no meu blog, por a considerar elucidativa a todos os outros leitores.
- Não, não creio que deva ter vergonha de criticar "a maior instituição religiosa do mundo". Primeiro, porque não é (conheces o Dalai Lama?) e, segundo, porque tamanho não é documento;
- O facto de ter muitos adeptos não significa tem razão e, sim, acho que "milhares e milhares de portugueses" é que estão errados. Relembro-te que o nazismo também conseguiu muitos adeptos e isso não faz dele uma doutrina correcta;
- se minha atitude "insulta as pessoas de fé" e "vai contra" as minhas "responsabilidades de pessoa com imagem pública" (lol), é fácil: não leiam. mudem de canal. Da mesma forma, também considero insultuoso o que qualquer organização religiosa promove, da mesma forma que tu próprio também considerarias insultuoso se alguém agora formasse uma igreja ao Deus-Lua ou ao Deus-Telemóvel (com a vantagem de serem dois deuses que pelo menos existem fisicamente);
- concordo que a existência de Deus não pode ser cientificamente provada, mas isso não faz com que exista. Também não consigo provar que não existem dragões voadores, mas sei que não existem, quanto mais não seja pela lei da probabilidade. E, pelo menos no terreno da probabilidade, posso discutir a existência do teu Deus;
- se houver inferno, terei todo o gosto em arder lá, como referes. Afinal de contas, não vou querer passar a eternidade longe de todos os meus amigos."
Do Blog aì à esquerda.
5 comentários:
Carlos Moura tem bom blog...já agora nta sugerib leitura de "O Fim da Fé" de Sam Harris, foi através de Carlos Moura k nconxe ess livro e n'interessa a ponto de compral. Grande livro sem duvida, ta fala de relação de religiao k política, terrorismo e td aspectos de nos vida. Tem kem k ta dze ma problema de religiao e so kes extremistas, mas livro la ta dze kma nem moderados devia existi...e já agora concordo plenamente. Bsot le kel livro, 5 estrelas...
Mr. Guimarães, bo ê sempre benvindo na Soncent. Dia que un puder, un ta alel sim! Fcá dred!
Uma observação: O que deve destinguir uma ateu de um religioso é exactamente o facto de tão querer transformar a sua descrença numa fé, numa religião. O proselitismo deve ser deixado a cargo dos crentes, caso contrário far-se-á como na URSS onde os crentes eram presos e mortos em nome de uma “desfé” que tornou-se numa fé.
Já agora outra observação, O Dalai Lama ( se se refere ao Tenzin Gyatso – pessoa) não é uma instituição, pois instituição é exactamente algo que vai para além da(s) pessoa(s) que num dado momento representem uma determinada organização ou ideia. Mas se fala do Dalai Lama instituição ( pois para os mais desatentos Dalai Lama não é o nome do senhor é apenas um titulo, como Papa) há que tentar saber mais para além do que é dito pelos actores de Hollywood , pois para os mais desatentos que não estudem história, o Tibete antes da invasão chinesa não era propriamente uma estado do género conto de fadas, muito pelo contrário, era um estado feudal e teocratico , onde os direitos humanos e os princípios da igualdade eram uma miragem para a maior parte da população, onde se praticavam castigos corporais como amputações e afins e o rei era, adivinhem e pasmem-se, o sr. Dalai Lama . Depois vieram os chineses que fizeram pior, em nome exactamente, da sua descrença e “desfé”. Qualquer ateu que se preze deve exactamente fugir do que pior há nas religiões em geral, a necessidade de fazer os outros acreditarem naquilo que se acredite. Uma coisa é dar a sua opinião, outra é o proselitismo da descrença. Beijos
Concordo, Sr. Anónimo, concordo. Não é neste blog que verá ser fundada a seita dos ateístas praticantes.
Estou a ver que estes ateus têm todos pelo menos uma fé: a da descrença a qualquer custo.
Independentemente da crença ou da decrença de qualquer um, mais importante que tudo é respeitar o pensamento e/ou sentimento do próximo (para os crentes), do outro (para o ateu). Só uma correcção que penso ser importante e gostaria de partilhar.
Um ateu é um ser que está contra Deus, o que não significa que não acredite, ok? Ou no mínimo seria louco por estar contra algo que não acredita...Agora pode é não acreditar, e essa sim é a definição de descrente.
E isto faz-me lembrar uma colega nossa de turma, Eileen,que dizia querer casar vestida de branco numa igreja, mas não acreditava em Deus. Ora...ia receber a benção de alguém em quem não acreditava...usar uma aliança, simbolo de união sem princípio e fim, criada pelo (pelo menos meu) Deus maior. Enfim...sem comentários...Quanto à fotografia de que falas, deixa-me um dia levar-te à minha Igreja e mostrar-te uma Cruz e um ser maravilhoso lá cruxificado. Deus ou louco, ele existiu...e pelo menos a mim,ajuda-me a viver um pouco melhor a minha vida.
Mas não devemos confundir fé com Igreja. O Papa não é Deus. É homem.
Só queria dizer uma coisa ao anónimo: destinguir não existe.
E a ti, Eileen...desculpa esta ausência, mas havemos de nos encontrar.
Tua Patrícia
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