– Íris olhou para ele assustada. Teve a certeza de que o coração lhe falhara uma batida.
Preferiu ficar calada, por não sentir que teria voz, se abrisse a boca. Conseguiu franzir a testa, o que lhe conquistou mais um comentário:
- Mas você não nos viu. - Íris conseguiu balbuciar, depois de ideias como cadeia e suborno lhe terem passado pela mente:
- Ah! Vocês viram-me? Onde?
- Quando se vinha embora. Estávamos a acabar de chegar. Do Maurício é que nem sinal. Você viu-o?
- Não! – Foi um grito – Nem o barco dele, nem nada. Por isso é que me vim embora.
Aliás, creio que não vale à pena ficar mais tempo cá. Não se passa nada. – Íris continuava a suar, embora estivesse agora mais descansada. Se eles só a tinham visto a vir-se embora, queria dizer que perderam a parte da perseguição e do desaparecimento do Maurício.
Era questão de continuar a afirmar que não vira o espanhol e partir o quanto antes para São Vicente. Como lhe apetecia sentir a segurança das suas quatros paredes! Mas não seria assim tão fácil.
Deixou-se ficar ainda uns minutos na sede e depois partiu para casa. Tentaria o voo do dia seguinte, por hora nada havia a fazer. Só conseguiu adormecer tarde. Quando fechava os olhos, imaginava a quantidade de coisas que poderia fazer com a fortuna que estava entre a roupa suja. Mesmo que esse dinheiro fosse, também ele, sujo.
Praia do Estoril
De madrugada, depois de ter finalmente adormecido, acordou sobressaltada. A princípio pensou que fosse do seu natural nervoso. Depois deu-se conta de que havia alguns ruídos junto à porta da casa. Teve uma série de calafrios, um a seguir a outro. Era óbvio concluir que alguém de facto a vira, que vinham agora reclamar o seu quinhão … Olhou à volta à procura de alguma arma para se defender. Não havia nada.
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